segunda-feira, 27 de junho de 2011

Fênix

Ela se permitiu uma semana de tristeza profunda, mas sabia que dali pra frente, a vida tinha que continuar. Tinha que continuar porque ela era só uma, porque ela era a vida toda mas era também aqueles segundos perdidos no limbo entre ser ou só existir. Ela era o seu aniversário chegando, mas era também aquele fim de domingo que você gastou no sofá, assistindo ao que nem te interessava. Era a noite maravilhosa que você ainda vai ter, mas também era o passeio com sua cachorra na pracinha que você adora adiar. Ela é o feriado ótimo que foi. E é a segunda que vem, com compromissos, protocolos, responsabilidades, sim, mas sua segunda, vê se põe alguma cor nela. Uma cor da sua aquarela, ainda que sejam apenas as linhas tortas que seu punho consegue desenhar. Faça as pazes com o espelho, com a porta, com o seu travesseiro. Ele tá cansado de só ser amassado e ensopado,  de receber mordidas e gritos abafados, de ver você se revirar a noite inteira perseguindo fantasmas ao invés de sonhos. Todo mundo quer te ver sorrir. Querem a moniquinha, a manivela, a rainha, querem qualquer versão de você que não tenha essa sombra escura no rosto. E você também quer, quer mais do que ninguém. Você tem saudade da leveza de só se deixar ser, e acabar sendo. Você tá curiosa pra ver um arco-íris sair daqui de dentro. A ansiedade de repente fez-se tanta que nem mais organizar essas letras fez sentido: vou dormir que amanhã um novo dia me espera. Novo, sinônimo de lindo.