segunda-feira, 13 de junho de 2011

Camigrafia

Nunca soube estudar, nunca soube fingir, agora dei para não saber sentir. Tô olhando pra esse computador e ele olhando pra mim. Tô olhando pra essa máquina de escrever e ela tá rindo de mim. Eu costumava ser boa nisso de amar. Sabia poema, tinha um vento que me cheirava à paixão, tinha um calafrio que ia do nariz aos calcanhares. A minha janela era de tinta a óleo, só vocês não sabiam. Ninguém costumava saber. Agora todo mundo lê em mim idiomas que ainda não aprendi. Viro equações, frações; eu coagulo. Minhas artérias tão mapeadas e elas se findam no esgoto. Um lugar verde, um sax no fundo. Quem toca o sax não tem mãos, só um coração maluco. Eu que pus ele lá. E nadei até chegar nessa cadeira dura que tá me olhando de esguelha. Ela é branca e por isso tô sentada aqui, procurando alguma calma, uma vírgula que espanque todos esses pontos finais mal amados, nem chamados, nem bem-vindos. Parede bege não dá inspiração. Eu vejo letras voando e só queria que elas se sentassem comigo. Eu comprei tinta nova, ainda venta, dentro de mim sempre será mais vermelho do que cinza. Os tijolos não estão descascados, são só cambalhotas. Eu vejo luzes cintilantes bueiro abaixo, e uma bromélia usando o perfume do lírio. Vou me fazer em braile que é pra ninguém ler. Vocês deviam aprender a sentir. Hoje e sempre, um novo caderno de caligrafia.