Um blog é pouco para todas as impressões que eu queria registrar, uma cabeça é pouco pra tudo guardar, eu sou pouca pra tanto mundo. Tanto mundo que tem me cercado por todos os lados, me preenchido e me esvaziado, me dado nortes e becos sem saída. Com o sentimento recorrente de que quanto mais conheço, mais há para se conhecer, o universo se mostra esse abismo entre eu e todo o resto. Uma menina armada de olhos, ouvidos e coração, sempre facilmente impressionáveis. E agora com novas lentes e prismas, câmeras, gravadores e papeis se confundem comigo, com o outro, com essa alteridade difusa e sem fim, que somos nós aos olhos dos outros e o mundo pelos nossos olhos. Meus braços querem se esticar até onde a vista não alcança, quero sentir todas as dores e sabores, embora eu saiba não conseguir suportar. O peso é grande, a vida é curta e eu sou uma. Uma que queria ser mil, sem nunca deixar de me ser. Na estreita imensidão dessas pluralidades, ando e observo as paisagens, me vejo pelas janelas dos ônibus, meu reflexo está nas íris com as quais cruzo.
E passo as semanas matutando textos na minha mente. Mas escritora de pensamento não tem palavras onde possa se deitar quando os dias estiverem vazios de sentido. Eu preciso explicitar tudo que tenho aprendido e apreendido, tornar tudo isso real e encarar que meu destino é ser mosaico, é ser o “pouco de tudo, e muito de cada pouco” que um dia Forfun cantou, é ser portal entre um coração apressado e um mundo estruturado em caminhos tão diversos.
E talvez, no fundo, quem saiba seja desperdício guardar tanta vida assim só pra mim. Quadros lá fora que você não pode ver, pois minhas pupilas que os pintaram. Eu não sei nada completo, nada direito, sou consecutivas construções e desconstruções, sou perdida entre ruas e palavras e bandeiras. Mas eu costumo ser de coração. E um dia isso há de valer.