O fato é que eu perdi a medida. Perdi a medida de quantos ‘eu te amo’ são saudáveis, de quantas vezes é normal sentir saudades suas em 24 horas. Não acho a fronteira onde deve acabar o meu amor por você, pra começar o meu amor por mim. Não sei a porcentagem certa para as doses de culpa e de otimismo. Não sei o quanto eu te obrigo a dizer, ou o quanto você diz porque quer. Não sei o quanto eu me obrigo a dizer, pra te lembrar de que sou sua. Não sei se é certo ser assim tão sua. É aqui dentro que meu coração bate e é aqui dentro que as dores doem. Doem sem conseguir sair. Porque sair em palavras leva o peso pra você. Sair em lágrimas deixa a angústia no ar – oxigênio, nitrogênio, e dezenas de coisas que eu não sei resolver. E não sair... não sair deixa esse embaraço aqui dentro, a dúvida sobre o que houve antes e o que há de vir adiante. Já não sei acreditar nas suas palavras. Já não sei achar suficiente o que existe – talvez porque meus sentimentos tenham extrapolado o suficiente. Extrapolei a medida. A medida entre eu e todo o resto do mundo. Entre eu, você e tudo. Não sei mais quando o ciúme se torna absurdo, quando minha tristeza se torna um fardo, quando as minhas palavras desesperam. Eu só sei imaginar fora da régua. E você não me traz pra realidade. Eu sigo em curvas, procurando um sentimento que eu possa adotar, uma frase que vá fazer sentido, uma exigência que caiba no novo quadro que se pintou. Eu procuro esboços daquele quadro antigo. Eu rabisco rascunhos para uma próxima paisagem... e, no entanto, o presente se desenha sozinho. Uma confusão de riscos que eu não sei ler. Não sei onde está o nosso lugar, o lugar do nosso amor. Não sei onde tem um banco onde a gente poderia repousar em silêncio, de mãos dadas, vendo o tempo passar. Não sei que parte sua procura por esse espaço, e nem qual pedaço de mim vai conseguir sobreviver se ele não existir. Não sei quando calar e quando dizer; não sei quando me entregar e quando ser forte; não sei quando te deixar ir. Não sei quando te deixar ir. Não sei como deixar que você se vá. Não sei se você está indo. Não sei se eu estou te empurrando. Não sei se minhas mãos ainda agüentam segurar qualquer pedaço da sua blusa... não sei com que força eu ia querer apertar, e com que intensidade você se esquivaria. O vento bate e eu não consigo entender se então o amor se tornou isso. Uma pintura abstrata que nada diz, nada assegura. E deverá o artista insistir? Em pinceis que cansaram de ser manuseados? Acho que a cor desbota porque quer. Porque um dia o vermelho cansa as vistas, e alguém sai pra procurar um branco, longe em outros horizontes. O vermelho é uma cor forte, que não dá pra confundir. Eu já não vejo vermelho. Eu vejo suas mãos cansadas acenando tchau. Me vejo num porto vendo o barco zarpar. O grito, as lágrimas, o bater de pés – nada alcança a embarcação, que enfrenta as ondas e desbrava o mar. O som de um choro lá é o piar de um pássaro. E se incomoda, alguns passos o silenciam. Quem chora, sente a força se esvair. Quem assovia, deixa ser leve a vida que segue.
Eu vou esperar que o vermelho volte, que o coração se assente numa poltrona confortável e seca de quaisquer lágrimas. Eu vou esperar que medidas passem a ser instintos e não esforços – que eu volte a saber quanto amor uma pessoa pode sentir, para não exigir do meu corpo algo que ele já não consegue suportar. Vou esperar um sorriso seu de volta, espontâneo. Vou esperar um abraço sincero, um beijo sem pena, sem peso, sem dilema. Vou esperar uma flauta que ressona e que de repente são suas palavras de amor, aquecendo meu peito nesse verão infernalmente gélido. Vou esperar que sejamos suficientes – eu, você e o amor. Que as dúvidas cessem, que as lágrimas sequem, que o nó se desfaça. Que eu encontre palavras que possam ser minhas, um olhar pra chamar de meu, um beijo onde eu possa fazer casa, sem nunca mais ter que me perguntar qual é a medida do amor.